A colina escarlate: um filme de terror diferente

Vamos combinar: filme de terror é legal, mas acaba sendo bem previsível, né não? Posso estar exagerando, mas é esta a impressão que tenho: tudo parece normal quando, de repente, há um imprevisto e um grupo de amigos acaba se perdendo no meio da estrada, ou aluga uma cabana capengando de velha e suspeita, ou se depara com um ser até então não identificado, que, no final das contas, é um psicopata ou sofreu algum trauma terrível que o faz ter ódio do mundo. Depois disso, sangue, muito sangue. Mutilação, tortura, corre-corre… Até que todos morrem e uma das vítimas resolve o problema.

Desculpe a generalização. Sei que há filmes de terror que fogem deste padrão e sei também que o terror é o meu gênero favorito de filmes. Mas, numa pacata noite de sábado, me deparei com um filme que imaginava ser tudo, menos  de terror.

A colina escarlate. Foi lançado em 2015. Você deve ter ouvido falar ou viu o trailer por aí, no seu feed. Quem o dirigiu foi Guillermo del Toro, o mesmo de O labirinto do fauno, que encantou pelo caráter fantasioso do filme. E A colina escarlate segue justamente estes moldes: de fantasioso. Além disso, é também dramático e romântico.

A história gira em torno de Edith Cushing, interpretada por Mia Wasikowska (a Alice no País das Maravilhas, de Tim Burton), que, embora sonhasse em ser escritora, acaba se apaixonando pelo misterioso Sir Thomas Sharpe, interpretado por Tom Hiddleston (o lindo do Loki, de Thor); e vai morar na propriedade do noivo, a conhecida Colina Escarlate – que, de acordo com Thomas, é chamada assim porque, no inverno, a neve é tomada pela coloração avermelhada da argila abundante do local. Tem outros motivos para este nome, mas só assistindo ao filme para descobrir.

Além de a propriedade ser macabra, a casa (ou mansão) em que Edith passa a morar com o marido e a irmã dele, a Lucille Sharpe (Jessica Chastain), também guarda inúmeras peculiaridades. Uma delas é que o local está caindo aos pedaços. Outra é que é mais frio dentro do que fora da mansão. Outra é que todos os alimentos que brotam daquela terra ficam amargos e que as coisas começam a ficar estranhas com a chegada da nova moradora. E já dei spoilers demais por hoje.

A questão é que é um filme diferente e até bonito de se ver. Se não fosse a parte doentia que ronda a história, seria um conto de amor e drama. O interessante é que, embora seja um terror, o filme não dá grandes sustos pulverizados ao longo da trama. Ele constrói uma atmosfera assustadora e, aos poucos, o expectador vai entendendo o que realmente se passa naquele local e vai ficando incomodado, espantado.

A fotografia e a paleta de cores também merece destaque. A composição, como um todo é sóbria, mas em alguns momentos estratégicos, há cores chamativas e cheias de significado. A cor escarlate, além de dar nome à obra, também remete à paixão, desespero e terror que compõem a atmosfera do filme.

A fragilidade de Edith, a sedução de Thomas e a sobriedade disfarçada de Lucille também devem ser observadas. No final das contas, a composição do filme faz com que o espectador fique com os olhos arregalados tentando conciliar todos os fatos que são sutilmente mostrados. Diferente dos filmes de terror comuns, que assustam pela quantidade de sangue e violência. Realmente, A colina escarlate é um filme de terror diferente.

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